Grandes chances de que um algoritmo escolheu por você. O Facebook é “só” a maior das redes sociais, e lidera um movimento de mudança no paradigma de como consumimos informação. Veja bem, não estou falando apenas dos vídeos de gatos, mas de qualquer notícia.

Felizmente, ainda podemos nos empoderar (um pouco mais) da escolha de quais informações queremos disponíveis; mas antes, vejamos como essa decisão vem se tornando cada vez menos nossa.

O Zuckerberg não sabe como essa notícia parou na sua frente

Nem ele, nem qualquer outro funcionário do Facebook, ao menos não exatamente. O detentor desse conhecimento é o algoritmo do Feed de Notícias, que se tornou famoso sob o nome de Edge Rank. Apesar da fama, os detalhes do funcionamento do algoritmo são guardados em segredo, e sua complexidade já torna inviável até mesmo aos funcionários mais antigos e especializados da empresa o conhecerem por completo.

A afirmação soa forte, mas não ocorre sem motivo. A cada 20 minutos, um milhão de links, como esse que você lê, são compartilhados no Facebook. Se cada link levasse 5 minutos para ser lido, quase dez anos da sua vida seriam tomados na tentativa de percorrer o conteúdo compartilhado em 20 minutos. Sem contar com os dois milhões de pedidos de novas amizades, ou as três milhões de mensagens enviadas no mesmo período.

A montanha de informações não é só mundial, mas nossa. O algoritmo (ou o sistema de algoritmos) lê esse carregamento ininterrupto de dados, e, baseado em nossas ações diárias, começa a compreender do que gostamos, com quem interagimos mais, quais tipos de notícia ignoramos. Esse aprendizado o ajuda a determinar os conteúdos prioritários em nossos murais – já que não somos capazes de lidar com a tonelada de links aparecendo em 20 minutos.

O Facebook escolhe por você

Tablet com Morpheus

Texto vermelho ou texto azul?


Ok, ele aprende nossos gostos, afinidades, e a partir disso, ajuda na filtragem do conteúdo. Um pensamento nobre, mas a engrenagem não para aí. Outras regras influenciam as decisões do algoritmo, além das nossas:

Você só tem valor quando conectado

Não interessa – para qualquer rede social – que não sejamos sociais. Por definição, as redes não são sites de produtos. Elas não conseguem vender serviços diretos para qualquer pessoa. O valor delas está no nosso comportamento.

Nada é tão prejudicial ao Facebook quanto um usuário inativo.

Isso porque um usuário inativo não clica em links patrocinados, não compartilha as desejadas informações, usadas como riqueza para atração de empresas interessadas nelas… opa, entramos na monetização do negócio.

O Facebook depende de você online, ativo, curtindo/comentando/compartilhando, para que o ambiente por ele proporcionado seja atrativo a seus parceiros e clientes. A Nike não vai pagar para anunciar produtos e campanhas em redes sociais de pessoas defendensoras do sedentarismo e adeptas de conexões com a internet uma vez ao mês. Essa necessidade gera quais incentivos no tal algoritmo?

  1. Você precisa estar online. Se muitas pessoas saem da rede social pelo resto do dia após acessarem um link específico, qual ação o algoritmo deveria tomar? Priorizá-lo, ou escondê-lo?
  2. Você precisa estar ativo. Se muitas pessoas curtem e compartilham um link, o algoritmo deve priorizá-lo ou escondê-lo?
  3. Uma vez desconectado, você deve querer voltar. Se o Facebook consegue te deixar mais feliz enquanto está online, suas chances de voltar aumentam, não? Que tal se ele conseguir te deixar mais feliz, então?
  4. Por último, empresas podem pagar para suas publicações serem impulsionadas. Basta ver o “Patrocinado” embaixo do título da página autora do conteúdo. Posts pagos são priorizados ou escondidos?

Publicações pagas comandam

Conforme esse último ponto, o “mercado” para as publicações orgânicas – as não pagas, como essa aqui – vem sendo reduzido drasticamente, em prol das “impulsionadas” (o eufemismo para “patrocinadas”). Não é mera percepção. O gráfico abaixo ilustra o espaço perdido pelas publicações orgânicas entre Outubro de 2013 e Fevereiro de 2014:

Alcance médio de páginas orgânicas Facebook
Dentre as publicações orgânicas, estão:

  • Todos os blogs seguidos por você, que têm páginas no Facebook e não chegaram ao ponto de pagarem para ter suas publicações impulsionadas
  • As empresas ou lojas de menor porte sem grana para divulgar seus produtos e serviços
  • Qualquer página sua ou de um amigo seu, para promover um trabalho, um ideal, um grupo de discussão, uma banda, etc.

Na prática, uma publicação do Além do Roteiro não alcança 5% das pessoas que curtiram a página, se nenhum outro tipo de interação ocorrer. Isso mesmo, até para as páginas onde você um dia clicou “curtir”, “seguir”, ou qualquer correlato, a maior parte das publicações da mesma jamais aparecerão no seu mural.

O próximo passo do Facebook

Nada do que estou falando aqui é novidade para o grande site da internet atual. Como o algoritmo está em constante evolução para atender cada vez mais os pontos primários para a empresa, a próxima etapa já entrou em execução.

O Facebook está em negociação com os grandes portais de mídia mundial, como New York Times, Buzzfeed, National Geographic – no Brasil, o Estadão entrou na dança – para publicarem notícias diretamente na rede social. Muitos canais já colocaram a novidade em vigor, a exemplo da página do jornalista Guga Chacra, do Estadão e da Globo News.

Esse movimento se justifica pelo aumento da força do site como local onde as pessoas consomem notícias. Já em 2013, 30% dos americanos se atualizavam através do Facebook.

Acesso a notícias via redes sociais

Com o novo salto, a empresa de Zuckerberg confunde-se ainda mais com a própria internet.

Como retomar o controle?

Quando falamos de um milhão de compartilhamentos em 20 minutos, talvez retomar o controle soe utópico. Mas, mesmo que seja só um pouco, podemos nos tornar mais responsáveis pelo conteúdo que selecionamos. O Além do Roteiro já foi usado como exemplo, então vamos seguir nele, mas você pode tentar aplicar para qualquer site.

No Facebook

Como vimos, curtir a página não garantirá que você receba o conteúdo. É praticamente indiferente, na verdade. A chave está na interação; todo provedor de conteúdo aparecerá mais no seu mural quanto mais você interagir com ele. Por essa via, Catraca Livre e Sensacionalista, por exemplo, conseguem aparecer bastante sem posts patrocinados. Nossos amigos, nossa rede de contatos, interagem com essas páginas, e assim elas chegam até nós.

Não tem jeito, para favorecer o conteúdo dessa página aqui sem sair do facebook, só entrando e interagindo.

E-mail

O e-mail já soa como solução tecnológica antiquada, no entanto, o digníssimo continua sendo a melhor fonte de relação direta de um leitor com uma página. Se o site que lê mostra opção de assinatura por e-mail, e você prefere acompanhar sem perder as novidades, é o seu melhor investimento como leitor.

No Além do Roteiro, você pode fazer isso no menor formulário do mundo, logo abaixo. Só inserir o email e “Enviar”.

Espaço para o jabá: publicamos em média 2 posts por semana. Nada que vá lotar sua caixa de entrada, não é?

Twitter

A rede dos 140 caracteres se destacou na Primavera Árabe pela velocidade e facilidade de espalhamento de informações, mesmo em ambientes de censura. É lugar de informações rápidas e muitos links. De jornais a blogs, celebridades a políticos, todas as publicações daqueles que você segue aparecem no feed do seu Twitter. Não tem filtro, seguiu, recebeu.

Basta um @alemdoroteiro para nos achar por lá.

Instagram

O Instagram não permite links na descrição das fotos, exigindo assim um uso específico de quem tem perfil na rede, focado nas imagens ou nas hashtags. Quando não pensado para divulgação de produtos, acaba bastante usado para bastidores: fotos de equipes, eventos interessantes, curiosidades por trás do negócio. O Instagram do Além do Roteiro ainda é embrionário, mas lá você pode dar uma olhada em quando fomos observar os protestos no dia 15 de março, curtir o show do City & Colour ou bater um papo com o Deputado Federal Alessandro Molon.

Só procurar: alemdoroteiro.

Google+

Surgiu para desbancar o Facebook; nem chegou perto disso. Ainda assim, é utilizado por muita gente pela extensão com o Gmail, e o fato de ser menos inchado frente a seu rival – pessoas, fotos, textos, tudo – pode facilitar a sua organização quanto ao quê seguir. Também surgimos depois por aquelas bandas, então você pode se atualizar junto com a gente dando um +1 no Além do Roteiro.

RSS

O Google Reader acabou, mas não o seu mercado. As aplicações que juntavam publicações de inúmeros sites em um único email vêm sendo substituídas por aplicativos de função similar fazem, diretamente no smartphone. Dentre as novidades, temos nossa revista no Flipboard, aplicativo bacana para iOS e Android, onde você pode seguir o nosso e muitos outros sites, vendo o mesmo conteúdo dos endereços originais.

Se desconectar

Eu estava falando sério sobre a retomada do controle. Por mais que, off-line, você também não interaja com esse site onde vos escrevo, de nada vale uma curtida ou compartilhamento se falta tempo para você absorver essas informações, e ainda mais, se falta tempo para sair, conversar… enfim, viver. Nos tornamos máquinas de consumir informação, e sem nos desligarmos um pouco, nossos próprios filtros – mentais ou biológicos – não funcionam. Só sobra o algoritmo para decidir. Se você já assistiu Wall-E, sabe onde isso vai acabar. A dica está aqui embaixo (o vídeo não tem legendas, mas dá para pegar a ideia mesmo sem elas).


Inscreva-se para receber os novos textos do Além do Roteiro

Processando…
Sucesso! Você está na lista.

Roteirista, apaixonado por narrativas. Editor e podcaster do Além do Roteiro.


Yann Rodrigues

Roteirista, apaixonado por narrativas. Editor e podcaster do Além do Roteiro.

%d blogueiros gostam disto: