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Olá, eu sou o Yann e esse é o terceiro episódio do podcast do Além do Roteiro.
Avisos
Até o dia 31/01/2020, estão abertas as inscrições para o envio de projetos para o Guiões, um dos principais concursos de roteiro da língua portuguesa!
As inscrições incluem uma categoria para longas metragens e outra categoria para séries, e os preços variam em inscrições até 30/11/2020 e inscrições até 31/01/2021.
Nesse período os seguintes roteiros foram adicionados no repositório:
Filmes:
- Tenet_-_Christopher Nolan – 2020
Séries:
- Atlanta 1x01_-_Pilot_-_Donald Glover
- Atlanta 1x09_-_B.A.N_-_Donald Glover
- Breaking Bad 5x16_-_Felina_-_Vince Gilligan
- How to Get Away with Murder 1x01_-_Pilot_-_Pete Nowalk
- Russian Doll 1x01_-_Nothing in this World is Easy-Leslye Headland
- Russian Doll 1x03_-_A Warm Body_-_Allison Silverman
- Schitt’s Creek 1x01_-_Our Cup Runneth Over_-_Dan & Eugene Levy
- Seinfeld 1x01_-_Pilot_-_Larry David and Jerry Seinfeld
- Snowpiercer 1x01_-_First the Weather Changed_-_Josh Friedman
- Succession 1x10_-_Nobody Is Ever Missing_-_Jesse Armstrong
- The Handmaid’s Tale 2x11_-_Holly_-_Bruce Miller & Kira Snyder
- Upload 1x01_-_Welcome to Upload_-_Greg Daniels
- When They See Us 1x04_-_Part Four_-_Ava DuVernay & Michael Starrbury
A campanha no Apoia.se segue no ar com dois níveis de contribuição. O primeiro nível, Créditos, inclui contribuições a partir de R$ 5,00, para você ajudar a manter esse trabalho custeando a hospedagem do site, os servidores e a produção do Podcast considerando todos esses roteiros que eu mantenho atualizados no repositório, lembrando que são mais de 1100 lá na pasta, e considerando os eventos do calendário de eventos e por aí vai.
O segundo nível de contribuição, a partir de R$ 15,00, é onde você participa do grupo exclusivo no Telegram. Vamos fazer leituras de roteiros com esse grupo, para compartilharmos os nossos próprios projetos, comentarmos e nos ajudarmos.
Apoie o Além do Roteiro
Com sua ajuda, toda a estrutura do site seguirá entregando conteúdo para a comunidade de roteiristas brasileiros!
Eu disse que esse é o terceiro episódio, mas também posso dizer que é o primeiro de uma série nova, um dos formatos que eu quero testar aqui no Podcast. Reforçando o que falei lá no episódio de estreia sobre a Ilíada, eu compartilho aqui o meu processo de estudo sobre roteiros. O que quer dizer que, de vez em quando eu preciso falar das técnicas e ferramentas que eu uso. Sejam as técnicas de estudo ou as de escrita, por exemplo.
Pois bem, esse é o primeiro episódio da série de métodos de estudo. Serão episódios mais curtos, até metade do tempo de um episódio comum, que olha para uma narrativa específica, como os dois primeiros do podcast.
Eu não sei quantos episódios vão existir nesse formato, talvez um dia eu esgote a minha lista de possíveis métodos, mas vamos nessa!
Go Into the Story
Um dos sites sobre roteiro que eu mais acompanho se chama Go Into the Story. Esse site é um blog em inglês com muito respaldo no ramo lá nos Estados Unidos, mantido pelo roteirista e professor Scott Myers. É um site com informações sobre todos os assuntos de roteiro, desde exercícios a entrevistas com profissionais do ramo, análises sobre o mercado ou estudos sobre teorias.
É inclusive uma das minhas fontes para o repositório de roteiro, especialmente na época em que a temporada de premiações fica aquecida.
Só pra vocês terem uma noção, em Julho o site teve o fim de uma sequência absurda. Foram 4,428 dias consecutivos com pelo menos um post publicado. Desde o lançamento do site, em 2008.
São mais de 29mil artigos, então não é à toa que eu tô começando essa série me baseando nele. Tem muito material para guiar o estudo sobre roteiros.
Em meio a tanto conteúdo, Scott elaborou uma fórmula bem simples de estudo e treino na prática do roteiro. São 3 diretrizes simples: Ler Roteiros, Ver Filmes, Escrever Páginas. Para cumprir essas dimensões, Scott pede que lembremos de 4 números:
1, 2, 7 e 14
Eu vou apontar aqui o que Scott guia nesses quatro números e depois eu vou ter a audácia de fazer meus comentários.
Os quatro números determinam uma frequência de estudo e trabalho por semana. É bem básico:
Ler 1 roteiro por semana.
Ver 2 filmes por semana.
Escrever 7 páginas por semana.
Reservar 14 horas por semana para a construção de histórias.
Scott segue com alguns comentários, apontando por exemplo que com essa frequência, em 1 ano você terá lido 52 roteiros, visto 104 filmes e escrito dois longas.
Essa conta dos longas é baseada em 120 páginas, seguindo o padrão de duração dos filmes em Hollywood, e eu até acho que ele fez esse cálculo errado. Mas se a gente considerar um padrão de 90 páginas para roteiros de longas brasileiros, um achismo meu baseado em restrições de editais e sucessos comerciais, escrever 7 páginas por semana, ou seja, 1 página por dia, significa escrever o equivalente a 4 longas em 1 ano. Impressionante, não é?
Veja bem, equivalente. Você pode reescrever o mesmo longa ou escrever alguns episódios de série seguindo esse padrão.
Com 52 roteiros lidos em 1 ano, você pode completar em 2 anos a lista dos melhores 101 roteiros de cinema segundo a WGA, Writers Guild of America, o sindicato dos roteiristas nos Estados Unidos.
Mas esses são apontamentos do Scott em seu guia. Ele sugere, por exemplo, variar os gêneros na leitura de roteiros, variar entre ler seus filmes favoritos e estudar gêneros com os quais não está acostumado. Para ver 2 filmes por semana, ele comenta sobre ver 1 filme no cinema e outro em casa, considerando que esse guia é de 2012 e o fim do mundo era apenas mais um filme. Outra opção é variar entre 1 clássico e 1 filme recente.
Scott não estende como ter uma rotina para escrever ao menos 1 página por dia ou conseguir reservar 2h para pesquisa ou construção de histórias. O intuito desse texto é apenas dar uma estrutura simples para que as pessoas possam começar a definir uma rotina de estudos e prática de escrita.
Eu não sou professor e não faço ideia de como fazer você especificamente poder escrever mais ou melhor, então eu vou aproveitar essa estrutura de estudo para pensar a parte na qual me sinto mais confortável, a leitura de roteiros. Especificamente:
Como ter acesso a roteiros e como escolhê-los?
Esse guia de Scott, além de ter sido escrito em 2012, é pensado para quem quer despontar em Hollywood. Atualizando isso para 2020, para a realidade brasileira, precisamos adaptar algumas cosias.
A primeira questão é que devemos adicionar séries aí na conta. Ler 1 roteiro, seja de longa ou série, por semana, já é um belíssimo feito.
Séries estão em alta no mercado brasileiro, na comparação com os longa-metragens, algo muito intensificado pelo cenário político do audiovisual. Mas eu não sou especialista nessa política e não vou me aprofundar. Basta considerar que roteiros de série têm diferenças relevantes para roteiros de longas, e mesmo entre séries.
Quando lemos um roteiro de uma série de canais com intervalos comerciais, como Lost ou Brooklyn Nine-Nine, vamos ver a divisão de atos explicitada no roteiro, pois essa divisão já prevê esses intervalos comerciais, o que implica dizer que o próprio formato da programação influencia a estrutura do roteiro.
Ao ler um roteiro de Big Little Lies ou Atlanta, séries cuja exibição não pausa para esses intervalos, a coisa já se aproxima mais de um longa, onde a estrutura está escondida, já que não há a necessidade de prever os comerciais interrompendo a narrativa.
Além disso, temos o problema de que roteiros estão, em grande maioria, em inglês. É o caso dos mais de 1100 roteiros lá no repositório do Além do Roteiro.
É, eu não podia passar desse tópico sem um jabazinho porque repito, são mais de 1100 roteiros, e você ouviu no início alguns dos que acabei de adicionar.
Mas sim, praticamente tudo que está lá está em inglês. Existem alguns sites como a Tertúlia Narrativa ou mais recentemente a Narratologia, que disponibilizam roteiros traduzidos. Isso é incrível, mas é lógico que são pouquíssimos roteiros traduzidos, já que dá um trabalho tremendo traduzir.
O nosso mercado não tem o hábito de compartilhar roteiros. Não sei o porquê, só sei o fato. Recentemente, por exemplo, pudemos assistir à premiação da ABRA para os melhores roteiros na última temporada comercial. No mercado americano, sites como o próprio Go Into the Story ou o Script Slug, outra fonte famosa, teriam disponibilizado os roteiros das obras concorrendo aos prêmios. Por aqui, infelizmente, isso não rola.
Então, como ler roteiros em português? O jeito que eu encontrei é com grupos de leitura. Se não temos acesso fácil a roteiros em português, conseguimos isso compartilhando entre nós mesmos. Esse é um dos grandes benefícios dos grupos de leitura considerando o nosso contexto, o simples contato com as narrativas de outras pessoas em nossa língua.
Grupos de leituras trazem outra questão interessante, a possibilidade de ler projetos em seu estágio atual de desenvolvimento, ao invés de lermos obras prontas. Vou fazer uma leve categorização aqui.
Você pode ler um roteiro de um filme já produzido, ao qual você já assistiu. Esse exercício tem como benefícios a possibilidade de comparar essas duas versões da obra: a versão oficial, filmada, que poderíamos chamar de “versão 7.0 master ultimate final final mesmo dessa vez acabou”; com a versão do roteiro que foi entregue para a produção. O que funcionou na página, mas não funcionou tão bem na tela? E o contrário? Para essas partes que funcionaram melhor na tela, o que poderia ter sido feito diferente já no roteiro?
É um exercício riquíssimo, mas eu não recomendo apenas ler roteiros nessa categoria. Afinal, se você já assistiu a todas as obras dos roteiros que lê, é mais difícil notar quando algo não está funcionando na página já que você já tem a versão filmada na sua memória. É fácil projetarmos o sentimento daquilo que lembramos sobre o que estamos lendo e perder a percepção real da leitura.
Então, além de ler o que já assistimos, é interessante lermos roteiros de obras que ainda não assistimos. Talvez o principal trabalho de um roteiro seja fazer o leitor assistir ao filme ou série na tela imaginária que existe na mente de cada um. Se a pessoa que lê não consegue visualizar uma cena, provavelmente ela pode ser melhor escrita. Se colocar no lugar dessa pessoa leitora permite enxergar melhor o que não funciona, o que não gera a cena na sua própria tela imaginária. É um exercício de se colocar no lugar de pessoas na cadeia de produção, de canais, pessoas em posições de escolher quais obras serão selecionadas.
Agora o meu porém. A forma mais fácil de ler roteiros nessas condições ainda é escolher roteiros de obras produzidas, mesmo que você ainda não as tenha assistido. O que significa que, muito provavelmente, você estará lendo um SHOOTING SCRIPT, um roteiro já mais próximo da filmagem, que já foi ajustado, adaptado, após a colaboração da direção e de outros departamentos.
A maioria das pessoas que lê o roteiro de UM LUGAR SILENCIOSO, por exemplo, vai ler um roteiro extremamente bem escrito com muitas nuances e formatações pensadas para dar diretrizes ao departamento de som, pois o roteiro já tem a inclusão do diretor John Krasinski em sua escrita. Mas a versão anterior do roteiro, a versão que proporcionou a venda do projeto, escrita pelos autores Scott Beck e Bryan Woods.
Essa versão anterior é um dos roteiros mais interessantes que li na vida, pois é um roteiro preocupado primeiro em nos fazer enxergar o filme que Scott e Bryan queriam fazer, e depois com as limitações de formatação. Essas limitações precisavam sim de ajustes para aspectos de produção posteriores, mas não foram problemas para a venda do projeto, o que mais queremos nas nossas vidas. Pelo menos o que eu mais quero no momento.
O roteiro tem coisas incríveis como uma página inteira com apenas uma palavra ou uma imagem colada de um tabuleiro de Monopoly. É surreal.
É por isso que no texto sobre o filme UM LUGAR SILENCIOSO lá no Além do Roteiro eu coloquei o link para os dois roteiros, e obviamente ambas as versões estão no repositório.
Eu tô dizendo tudo isso pra apontar esse benefício principal das leituras de roteiro, que é, o contato com obras que ainda não têm uma versão para produção. Obras que estão em desenvolvimento, focadas primeiro na venda, em contar a melhor história possível e conquistar quem tem a decisão e ou a grana.
O que eu faço na minha rotina é variar entre esses modelos. Ora leio filmes, ora leio séries. Ora leio roteiros de obras produzidas, ora leio roteiros não produzidos, onde só a minha imaginação terá as imagens. E participo de leituras de roteiros para ter acesso a esse tipo de roteiro em português.
Por fim, eu adoraria adicionar mais roteiros em português de obras brasileiras produzidas, lá no repositório do Além do Roteiro. Seria a forma de preencher a última lacuna desses cenários todos. Só que pra isso eu precisaria entrar em contato com basicamente cada artista dona dos direitos autorais de cada obra, e eu não sou um peixe grande no mercado com milhares de contatos no Whatsapp, e a cara de pau também não é meu ponto forte. Então, se você tiver capacidade de ajudar de alguma forma nisso, se você tem acesso a 1 roteirozinho que seja e puder fazer a ponte, eu agradeço imensamente e adiciono os roteiros lá no repositório, pra todo mundo ter acesso como já é hoje.
Mas esse é pra ser um episódio mais rápido, então chega. Quero saber o que você acha desse tema e formato de episódio. E se você tem alguma dúvida ou questão com alguma técnica ou ferramenta de estudo ou escrita de roteiro, me manda que, se eu puder explorar aqui, o farei.
Reforço que a transcrição desse episódio está lá no site, com os links de todas essas referências citadas ao longo do programa. E reforço que na campanha do Apoia.se no Além do Roteiro, na contribuição a partir de R$15,00, você terá acesso ao grupo exclusivo no Telegram onde vou promover leituras de roteiro.
Te espero no próximo episódio. Até breve!
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Roteirista, apaixonado por narrativas. Editor e podcaster do Além do Roteiro.