Ato 01

No primeiro episódio, fomos introduzidos a parte do mundo de Westworld: aos fluxos narrativos, aos loops (a memória apagada após um dia), à Dolores e aos bastidores do parque. Em especial, ao funcionamento próprio do parque.

Neste segundo episódio (que parece mais uma extensão do primeiro), somos apresentados a novos personagens: William (Jimmi Simpson) e Logan (Ben Barnes), enquanto somos aprofundados na narrativa de Maeve (Thandie Newton). Dolores, que parecia a protagonista no primeiro episódio, ganha pouco tempo na tela; contudo, seu tempo é recheado de mistérios e promessas.

Um comentário rápido antes de entrarmos no universo desse segundo episódio. O nome “Chestnut”, que significa primeiramente “castanha” (não da cor, mas da oleaginosa), e também dá nome à cor, tem outro significado, bem apropriado ao episódio. O Site The Free Dictionary (Dicionário Livre) diz:

“An old, frequently repeated joke, story, or song.”
(Uma velha e frequentemente repetida piada, história ou canção)

Isso é brilhante! Porque, como vemos no episódio, Maeve (cujo tom de pele é mesmo castanho) conta uma história repetida.
Mas não é só isso. A memória de Dolores, e a de Maeve, são histórias repetidas, visto que já aconteceram. E esse é o ponto principal do episódio.

Ah, e um último detalhe. A paleta de cores do episódio é castanha também. Veja alguns exemplos:

Westworld 1x02 Chestnut cena 1

As cortinas, a roupa de William, a parede atrás. Seu contraponto, em preto, Logan.

Westworld 1x02 Chestnut cena 2

A terra, a madeira das pilastras e dos pisos e das paredes. A roupa de vários anfitriões. De novo, Logan contrapondo. Aquele cara de cinza (um convidado, logicamente) se distinguindo dos outros.

Westworld 1x02 Chestnut cena 3

A calça, a madeira entre eles, os detalhes atrás da androide. O cabelo de William – que parece castanho. Branco dos dois, com o paletó contrapondo.

Westworld 1x02 Chestnut cena 4

A estante em madeira, a parede, o armário à direita; o tom de pele dela e da filha, o cabo da espingarda. Branco dando mais ênfase no castanho ao redor.

Westworld 1x02 Chestnut cena 5

A grama, contra o sol, tem um tom amarelado. A roupa tem um tom terroso. De novo, a cor de pele. O cabelo. A casa ao fundo. A carroça. Não podemos ver o céu, que atrapalharia.

Ato 02

“Acorde”, uma voz misteriosa ordena a Dolores. Ela obedece. Sai de casa, como se estivesse sendo guiada remotamente por outra pessoa (ou androide?). Ela chega a um lugar perto de casa, onde mais tarde vai encontrar uma arma (uma arma de verdade!).

Cortamos para a apresentação de dois novos personagens, William e Logan. (nota = alguém achou a androide que acorda William e retira seu copo bizarramente parecida com Dolores?).

Os dois personagens são quase opostos, e isso é fantástico. É como se William (que nunca foi ao parque) ainda estivesse em dúvida sobre quem fosse; Logan (que já foi uma ou mais vezes), é muito mais relaxado quanto a tudo. Ele sabe exatamente quem ele é. E, mais importante, gosta disso.

Somos apresentados a todo o processo que antecede a entrada no parque. Um trem luxuoso chega à estação. Os convidados são recebidos por androides (é claro para nós isso, para os convidados talvez não seja tanto). Uma androide espetacular faz perguntas de praxe, fazendo, inclusive, uma piadinha. Além disso, ela consegue criar uma tensão sexual entre eles.

Em um closet enorme, onde há dezenas de opções de roupas, todas feitas sob medida, a androide nota que William quer fazer uma pergunta. A pergunta.

“Você é real”?

“Se você não consegue distinguir, qual a diferença?”

Oito palavras. Uma pergunta. Uma questão filosófica muito profunda.
William pergunta sobre as armas, se são de verdade. A androide responde que sim, mas que “você não pode matar quem não deve.”

Ouvi muitas pessoas falarem que isso significa que as armas são programadas para jamais dispararem contra humanos, apenas androides. Mas não é isso que é dito. O que é dito é: “você não pode matar quem não deve.”

Mas quem controla isso?

Muito sutil também a parte em que William está terminando de se vestir. Há uma parede com chapéus pretos e brancos. Quase como uma escolha entre bem e mau. William escolhe o bem.

Vamos aos bastidores. Há uma preocupação de que o que aconteceu com Abernathy aconteça com outros. Como se fosse contagioso, ou algo parecido. Bernard Lowe desmerece essa possibilidade.

Na cena seguinte, vemos Dolores perto do Mariposa (bar principal). A mesma voz do início do episódio fala: “lembre-se.” E ela obedece. Olha a rua e vê corpos caídos, mortos. Maeve aparece e pede que Dolores fique parada em outro lugar, para que os clientes não achem que ela é o exemplo da beleza que há lá dentro (uma ironia, claro, porque Dolores possivelmente é a androide mais bonita do parque).

Dolores se vira para ela e diz: “esses prazeres violentos têm fins violentos.” Talvez você não se lembre, mas foi exatamente o que Abernathy disse à filha, no primeiro episódio. Ela diz isso a Maeve, que também desencadeia memórias. Como se fosse uma linha de código, um vírus transmitido pela fala.

Voltamos ao trem. Logan fala a William que ele terá a resposta da pergunta que sempre se fez: quem ele realmente é.
E cortamos para o que, com certeza, é o personagem favorito de quase todo mundo: Man In Black. Somando mistério, poder e charme, além da atuação magnífica de Ed Harris, o personagem cativou muita gente. Não é para menos; ele provavelmente é o único que sabe os segredos de Westworld, além de seu próprio criador, Dr. Ford.

Lawrence (Clifton Collins Jr.) está prestes a ser enforcado. O xerife está rodeado por seus homens. Man In Black banca o machão – que ele de fato é. Quem não seria machão se fosse imortal?

Resumindo: ele mata todos e “salva” Lawrence. Nessa cena, o estilo de filmagem é interessante – é pelo ponto de vista de Lawrence, que não vê coisa alguma. Quase como aqueles nos bastidores de Westworld. Eles intuem que algo está acontecendo, mas não vêem de fato. Como Lawrence.

Dolores está de novo na rua em frente ao Mariposa. Ela ajeita a sela de seu cavalo e se olha no espelho. Fica se encarando. Quase como se estivesse questionando quem ela era; questionando sua própria existência.
De volta ao bastidores, com Bernard e Dolores. Ela sempre parece ambígua nas cenas dos bastidores:

“Você conversou com alguém sobre o que falamos?”

“Você me disse para não falar.”

Isso me parece uma resposta evasiva para um robô, não?

Em seguida, quando ele pede para ela apagar os registros, ela fala sim, mas sua expressão parece dizer o contrário.
Voltamos ao Mariposa. Uma das funcionárias (Clementine) de Maeve diz que teve pesadelos – será que ela também está tendo memórias? Maeve conta um segredo seu (que será importante logo, logo), que consegue contar até 3 e despertar de um sonho ruim.

Em seguida, nos bastidores, há uma rápida discussão sobre sonhos. Elsie (Shannon Woodward) – aliás, alguns nomes vem diretamente do IMDB, porque a série parece bem despreocupada com o uso de nomes -, que trabalha diretamente com Bernard Lowe, argumenta que eles não podem ter sonhos, porque sonhos são majoritariamente memórias. Lowe faz uma pergunta interessante:

“Que horrível seria se eles se lembrassem dos horrores que os convidados fazem a eles?”

A série tem esse artifício simples (e meio óbvio), porém interessante. Relacionam frases à cena seguinte. Aqui, falam dos sonhos. Em seguida, mostram um sonho de Maeve, onde em uma “vida passada” tinha uma família.

Índios querem matar ela e sua filha. Ela foge. Refugia-se em sua casa. Encontra uma arma. Coloca a munição enquanto observa os índios se aproximando. A cena é muito tensa, e sem som, exceto a brilhante trilha sonora de Ramin Djawadi (de Game of Thrones).

Ela vê um índio pela janela. Ele passa e vai à porta. De repente, esse índio é o Man In Black. Cacete!!! O que esse homem quer?

O que me intrigou nessa cena foi o índio “se transformar” no Man In Black. Será que isso ocorreu mesmo ou será que foram múltiplas experiências se misturando?

Se for a segunda opção, faria sentido; pedaços de memória formando um sonho confuso. Se for a primeira… Pode querer dizer que o Man in Black pode assumir o corpo de outros androides. Ou seja… (desculpem meu francês)… ca-ra-lho.

Continuando… Enquanto ele se aproxima de Maeve, ela faz a técnica que disse a Clementine. Conta até três. E acorda.
Ela está numa sala de operação. Não parece ter sido um erro do funcionário, mas um aumento no autocontrole de Maeve. Ela diz no início que tem o controle de acordar a si mesma de um pesadelo. É o que ela faz. Ou seja, mostrando que ela está tirando o controle de sua programação.

Ela consegue fugir. Que cena maravilhosa, e assustadora, ela perambulando pelo laboratório. Imenso, vazio, sombrio. Sua nudez só aumenta a impressão de sua fragilidade. Diferente de séries como Game of Thrones, onde a nudez é usada apenas de forma expositiva (e como um reforço da realidade, já que as pessoas ficam nuas na vida real), aqui é usada como um símbolo de vulnerabilidade.

E ela encontra a sala cuja existência sempre nos perguntamos. Eu acho pelo menos que todos se perguntam o que acontece depois que os anfitriões são mortos. A série apresenta isso de uma forma totalmente aterrorizante… e humana. Porque vemos pela perspectiva de Maeve. Para ela, aqueles androides são humanos, porque são iguais a ela.

A cena é brutal. Poderia ter sido retirado de, não sei, um filme sobre o Holocausto. Corpos mortos sendo carregados; usando uma mangueira para lavá-los. Imagine-se vendo uma cena dessas. Chocante e traumatizante.

Man in Black consegue uma pista sobre o labirinto que tanto procura. Diz algo sobre um ninho de serpentes. A garota fala que o labirinto não é para ele. Para quem seria, então?

Minha impressão (admito, sem muitos fundamentos) é a de que aquilo que Ford olha no final e diz ser sua ideia original é o labirinto que Ed Harris busca. Porque na parte em que a filha de Lawrence lhe conta o caminho, ela fala de um ninho de serpente. Na cena imediatamente seguinte, vemos Ford “encantando” uma serpente.

Seria épico se o caminho dos dois personagens se cruzasse. Imagina ambos contracenando.
O momento mais marcante do episódio, contudo, é Dolores encontrando uma arma enterrada. Alguém fez com que ela fizesse isso. Quem? Por quê? O que irá acontecer?

Ato 03

Esse episódio foi todo sobre os humanos controlando as cordas das marionetes (anfitriões), que começam a se recusar a obedecer. E, pior do que isso, lembrando de épocas onde suas cordas eram facilmente manipuladas… e cortadas.

Alguém ainda duvida que uma rebelião vai ocorrer? Só que ficou bem estabelecido que nada nessa série é (nem será) óbvio. Ah, não. Com certeza teremos pela frente cenas chocantes, brutais, fantásticas e impressionantes.

Gosta da série? Você pode ler as reviews dos outros episódios de Westworld aqui.


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Carioca, que abriu sua própria empresa para poder ter tempo de escrever e falhou miseravelmente. Uma pessoa intensa que encontrou na escrita a única forma de extravasar tudo que passa dentro de si.


Nicholas Nogueira

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