ATO 01

Vou começar esse texto com uma pergunta complexa: qual a diferença entre nossa programação (biológica, cultural, etc.) e a programação dos anfitriões?

Pelo que sabemos, os anfitriões são programados com linhas de códigos, que lhes dizem exatamente o que falar, como se comportar, como agir e reagir, como pensam e, por fim, quem são. Vemos isso claramente em uma cena com Maeve, que falarei mais à frente.

Nós também temos nossas linhas de código: os genes passados por nossos pais, o que a sociedade nos impõe (e que é tão difícil de quebrar), o que nosso cérebro, pelo primeiro motivo ou pelo segundo, além de experiências em nossa infância, inconscientemente nos manda fazer.

Então: qual a diferença entre nossas programações?

No fundo, Westworld acaba sendo mais sobre nossa humanidade (ou ausência dela) do que sobre inteligência artificial ou robôs ou ficção científica.

Para tornar ainda mais complexa a questão: se somos todos frutos de uma programação, por que nos consideramos reais e eles (androides) não? E se você responder algo como “porque compreendemos nossa realidade”, eu volto a perguntar: Compreendemos mesmo?

ATO 02

Nos últimos episódios, parece que fomos colocados em uma caverna, encarando uma parede iluminada por uma fogueira; é o único ponto de vista que temos. Às nossas costas, há alguém manipulando as imagens que vemos projetadas nas paredes, mas não sabemos quem está manipulando.

Como no episódio inicial, onde Theresa fala a Lee Sizemore (o cara que mija em cima do mapa 3D do parque): “você é esperto o bastante para saber que há algo maior, mas não esperto o suficiente para adivinhar o que é.”

Sabemos que o que vemos faz parte de algo maior, só não fazemos ideia do que é. Talvez porque não somos espertos, talvez porque é realmente impossível ver.

Se isso soa familiar, é baseado na famosa “Alegoria da Caverna”, de Platão. Se você teve aula de Filosofia no colégio ou na faculdade, com certeza ouviu a respeito.

Esse episódio em particular foi muito mais devagar do que os outros. Mas não se preocupem; isso é comum. No final, de qualquer forma, o passo foi acelerado e obtivemos novas informações que com certeza terão importância crucial nos próximos episódios.

Alguns pontos que gostaria de levantar:

  • A cena de Maeve conhecendo todos os níveis da empresa – ao mesmo tempo, fomos conhecendo também, ficando tão encantados quanto ela. A cena me lembrou muito O Quarto de Jack, quando o garoto que dá nome ao filme vê o mundo fora do quarto pela primeira vez.

  • Maeve consegue acesso às suas configurações e obriga o Idi e o Ota a aumentarem ainda mais sua inteligência. Lógico que eles querem ver o circo pegar fogo, porque eles poderiam simplesmente ter diminuído a inteligência a 1, o que a tornaria incapaz de fazer qualquer outra coisa além de respirar e sobreviver, deixando de lado quaisquer planos que tivesse.

Mas isso levanta a seguinte questão: a facilidade com que um anfitrião pode oscilar entre extremos. Veja Teddy; achamos que ele é um bom homem, mas acontece que ele é um traidor assassino. Essa mudança pode parecer sinistra, mas depende só de uma mudança simples nas configurações do androide.

  • Teddy falando sobre o labirinto, que é um mito indígena. De acordo com ele, é “a soma da vida de um homem, suas escolhas, seus sonhos. No centro desse labirinto, há um homem lendário, que foi morto uma vez atrás da outra e sempre conseguiu voltar à vida… e então voltou pela última vez e exterminou todos os seus inimigos.”

Teddy fala sobre um homem morto várias vezes e que sempre volta à vida. Não é exatamente o caso dele? E, mais surpreendente ainda, “voltou pela última vez e exterminou todos os seus inimigos”. Em uma cena posterior, ele literalmente extermina várias pessoas. É algo a se pensar.

Podemos pensar em Arnold também. Talvez, de alguma forma, ele conseguia fazer upload de sua mente em um androide, mas aí eles eram mortos (o que pode não significar algo literal – por exemplo, sua memória pode ter sido apagada).

Em seguida, Teddy conclui sua fala sobre o labirinto: “a história sobre um homem que se cansou de lutar e construiu um labirinto tão complicado ao seu redor que ninguém conseguiria achá-lo”. Será só uma analogia ou terá algo de concreto nessa frase?

  • Ford abrindo um livro sobre o labirinto. Será que ele não sabe muito sobre ele? Será que ele está procurando o fantasma de seu sócio? Sabemos tão pouco sobre ele. Ele permanece um personagem sombrio e moralmente ambíguo.

  • No episódio 4, Ford diz a Theresa que não é do tipo sentimental. Mas ele manteve os androides de sua família não registrados e escondidos no parque. Na conversa com Dolores, no episódio 5, ele se mostrou bem sentimental quando ela perguntou “somos velhos amigos?”. O que ele quer afinal? Será que ele ser ambíguo inclusive em seus motivos é tudo? Ou será que há algo mais?

  • Constantemente somos lembrados da morte de Arnold. Mas se ele está mesmo morto, como ele está se inserindo nos androides? Eu entendo que talvez seja algum código vindo à tona agora, mas como ele poderia usar um transmissor para enviar ordens aos anfitriões? Ou será que não é ele? A voz com certeza é de um homem, e muitas vezes lembra a de Bernard.

  • Elsie descobre de onde o sinal está vindo. Respeitando todas as leis de filmes de terror, vai a uma casa abandonada, à noite, sozinha. Faz 3 descobertas interessantes: os dados estão sendo enviados ao satélite da Delos (empresa dona de Westworld); a pessoa responsável é Theresa Cullen;  o sistema envia mensagens para androides originais, feitos por Arnold.

  • A narrativa de Ford… como ela entrará nisso tudo? Com certeza ambas estão relacionadas, ainda mais com o Man in Black e todo o resto. Mas como?

  • Se Ford sabe sobre tudo que ocorre no parque, saberá sobre a traição de Theresa? Aquele encontro dos dois no episódio anterior foi fascinante, mas não parecia que ele sabia sobre isso.

  • Será que Theresa se afastou de Bernard para protegê-lo? Já que ela está traindo Ford, não quer ver Bernard no meio do fogo cruzado. Isso seria uma boa revelação de sua humanidade.

ATO 03

Yann Rodrigues, fundador do blog, me apresentou uma teoria interessante.

No episódio 5, o MIB ameaça Ford com uma faca, perguntando “vamos descobrir o que encontrarei se abrir você”. Isso com certeza mostra uma dúvida em MIB: será que Ford é um androide? Se fosse uma certeza, ele não falaria assim.

Imaginemos que Ford seja um androide que chegou ao ápice de sua consciência, mas ainda não chegou ao centro do labirinto (como falamos em outro texto, é o fim da linha para o androide se tornar um humano – ou algo muito próximo a isso). MIB fala que Arnold é o criador do parque, e talvez Ford seja o motivo de Arnold querer destruí-lo. Sua criação final se voltou contra ele. Afinal, não deve ter sido uma coincidência que Robert Ford seja o mesmo nome do homem que traiu e matou Jesse James.

Por que o parque continua? Porque Ford não sabe (ainda) replicar o que Arnold fez.

Ford ser um androide com certeza já passou pela cabeça de alguns. Talvez seja verdade, talvez não. Ainda não podemos saber.

Gosta da série? Você pode ler as reviews dos outros episódios de Westworld aqui.

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Carioca, que abriu sua própria empresa para poder ter tempo de escrever e falhou miseravelmente. Uma pessoa intensa que encontrou na escrita a única forma de extravasar tudo que passa dentro de si.


Nicholas Nogueira

Carioca, que abriu sua própria empresa para poder ter tempo de escrever e falhou miseravelmente. Uma pessoa intensa que encontrou na escrita a única forma de extravasar tudo que passa dentro de si.

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