Scott Myers, roteirista americano e autor do Go Into the Story, propõe uma série de exercícios chamados: como ler um roteiro?

Não é manual, fórmula mágica, é só um exercício.

Como disse por todo o tempo, cada pessoa escritora é diferente e tem necessidades diferentes, pessoalmente ou por projeto. Se alguma ideia aqui ressoa em você, sinta-se livre para usá-la. Se não, sinta-se livre para esquecê-la — Scott Myers, GITS

Das sete partes propostas, a segunda se chama Scene-By-Scene Breakdown, algo como dissecar o roteiro cena a cena. Após uma primeira leitura para conhecer a história, a ideia do segundo exercício é ler o roteiro de forma analítica, quebrando em cenas e páginas.

A divisão não deve ser necessariamente para cada cena, mas contando uma cena ou conjunto de cenas que representem um evento, ação ou significado. É subjetivo, pessoal. E daí? É só um exercício, pode ser divertido.

Caso você leia em inglês e se interesse pelas fontes, esse é o texto onde ele explica a proposta:

How To Read A Screenplay (Part 2): The Scene-By-Scene Breakdown

Esse é o arquivo com todas as Scene-By-Scene que ele mantém, junto com análises consequentes das Scene-By-Scene, totalizando mais de 60 (ele convoca leitores para gerarem suas versões e aumentarem o arquivo):

Go Into The Story Script Reading & Analysis Series

Bom, chega de merchan, certo? Reparei que, na ótima lista acima, não aparece ainda Manchester à Beira-Mar. O belíssimo longa de Kenneth Lonergan, que também assina o roteiro e venceu o Oscar de Melhor Roteiro Original de 2017.

Por aqui, esse mesmo exercício é feito pela Tertúlia Narrativa e resolvi trazê-lo aqui para o AdR.

Como funciona

Deixarei o link do PDF abaixo para seu download, conforme desejar. Em seguida, destaco as cenas ou blocos de cenas a partir de intervalos de páginas, para que você possa navegar junto, caso queira. Vou apontar os personagens que são introduzidos pela primeira vez. A simples escolha de descrever em mais detalhes uma cena, em menos outra, reproduzir um ou outro diálogo, já demonstra os pontos que minha subjetividade considera importantes.

É pedir demais que meus olhos captem tudo que há para analisar na história. Portanto, complementos e comentários são muito bem-vindos, como opiniões sobre as diferenças entre roteiro e filme. O principal é nos divertirmos dissecando um roteiro à fundo. Por isso que, no final, você pode ver como fazer o mesmo aqui também! Sim, é um convite…

Filme: Manchester à Beira-Mar
Autoria: Kenneth Lonergan
MANCHESTER BY THE SEA by Kenneth Lonergan

Nota: o roteiro é disponibilizado para fins educacionais.

Nota 2: o Além do Roteiro tem um grupo no Facebook! Acessa o link, pede para participar e chama as amizades. Você terá acesso às atualizações do Além do Roteiro, a outros roteiristas e entusiastas do assunto e a divulgações de cursos, editais, concursos e outros conteúdos sobre o audiovisual.

Ação

P. 1–4: No inverno de Manchester, Lee Chandler trabalha como faz-tudo. É zelador, eletricista, encanador, entre outros consertos. Montagem de Lee trabalhando em seis locais distintos, incluindo a sra. Gloom, Martinez, Marianne, sr. Friedrich e a sra. Olsen. Sério, sem expressão, fazendo um trabalho eficiente, metódico. Ele sabe fazer seu serviço. Não precisa de elogios ou gorjetas, mas as aceita sob insistência de Marianne.

P. 4–5: Lee explica o problema do vazamento no apartamento da sra. Olsen, que afeta o vizinho de baixo. Sugere ligarem o chuveiro para confirmar a origem do vazamento. Ela entende que ele sugeriu que ela tomasse banho para confirmar o vazamento, o que não era a intenção. Lee xinga a sra. Olsen, que fica furiosa. Ele sai impaciente.

P. 6–6: Emery, gerente do prédio, reclama da ofensa de Lee à inquilina. Elogia o trabalho de Lee, mas aponta as constantes reclamações. Lee não se importa, apenas faz seu trabalho, mostrando que sabe que parte dele é ilegal. Emery recua, sugerindo um pedido de desculpas à sra. Olsen. Lee não cede e sai.

P. 6–8: Lee vai para um bar. Bebe, joga, ri, tudo em pequenas doses. Quase não interage. Uma garota demonstra interesse nele, que permanece indiferente. Fica bêbado. Observa dois homens de terno. Eles notam, olham de volta, comentam entre si, ignoram. Lee vai até eles. “Por que diabos tão me encarando? ”. A briga começa, ele empurra o primeiro homem na parede, esmurra o segundo, fazendo sangue sair pelo nariz do homem. É expulso pelo Barman. Chega em casa, um ambiente minúsculo e sem decorações de destaque, esgotado da briga. Três porta-retratos se destacam, mas não vemos as fotos. Pega outra cerveja, liga a TV em algum esporte, senta na poltrona e dorme com a cerveja na mão.

P. 9–10: Outro dia, Lee mais uma vez tirando o acúmulo de neve na entrada do prédio pela manhã. Recebe uma ligação, não sabemos de quem ou o assunto. Ele parece preocupado e sai imediatamente, deixando o trabalho inacabado. Dirige o carro e liga para o Sr. Emery, para avisar de sua saída urgente. Pode ficar alguns dias fora. Não é a primeira vez. O tráfego se intensifica. Para completamente. Lee fica tenso. Chega ao Hospital Beverly e entra apressado na emergência. Quase corre. Vai até a UTI, conhece o caminho.

P. 10–15: Lee encontra George e a enfermeira Irene. “Ele está morto? ” Recebe a confirmação. Faz cerca de meia hora, o tempo que o trânsito o atrasou. Há um desconforto entre os três, além do peso da notícia. George e Irene contam o que ocorreu. O Dr. Muller chega. Foi quem ligou para Lee. O falecido é seu irmão, ataque cardíaco. O Dr. avisa que Lee precisará reconhecer o corpo e preencher formulários. “Foda-se isso”. Lee se desculpa e começa a pensar a logística. Pede que George ligue para pessoas que precisam ser avisadas, incluindo seus tios e sua esposa. Ex-esposa, Randi. Lee e Dr Muller vão para o elevador, rumo ao necrotério.

P. 16–20: Flashback. Voltamos oito anos. Joe Chandler, irmão mais velho de Lee, está deitado em um quarto de hospital. Lee, Stanley Chandler (pai dos dois) e Elise (esposa de Joe) estão no quarto, com a Dra. Betheny. Patrick Chandler, filho de Joe de 7 anos, está no corredor com uma babá. A Dra. explica que Joe tem insuficiência cardíaca, doença crônica. Elise se desespera a cada palavra, ao que Joe reclama para ouvir a Dra., Lee não suporta e Stan apazigua o clima. A médica explica que a expectativa de vida para Joe é de 5 anos. A bomba afeta a todos, a discussão explode e Elise sai em disparada, ignorando Patrick no caminho.

P. 20–20: Lee e Dr. Muller chegam ao necrotério. O corpo de Joe está lá. O irmão confirma a identidade de Joe. Tenta sair, mas não consegue. Volta para o lado do corpo.

P. 20–22: Flashback. Voltamos sete anos. Lee, Joe e Patrick estão em um barco na costa de Manchester. Lee ensina Patrick como pescar enquanto Joe guia o barco. Os irmãos tentam assustar o garoto com histórias de tubarões comendo crianças. Patrick não se assusta e retruca todas as tentativas. É inteligente. Um peixe é fisgado por Patrick, e os três ficam excitados com a pesca. Eles são próximos.

P. 22–24: Após a lembrança, Lee decide sair do necrotério. Volta com o Dr. Muller pelo elevador. Escutamos um som de incêndio, do volume de uma floresta queimando. Eles saem do elevador e reencontram Irene e George. Patrick ainda não sabe, como Lee pedira. Ele pergunta sobre serviço funerário, pois Joe cuidou disso quando o pai deles morreu. Eles assinam o necessário e Lee recebe os pertences do irmão em um saco plástico. Pega o carro rumo à escola de Patrick. Um telefone toca: Randi, no celular de Joe, dentro do saco. Lee desliga sem abrir o saco e o joga no porta-luvas. Na estrada, uma placa diz “Saída 16: Manchester à Beira-Mar”. Ouvimos novamente o som do incêndio, seguido de um som do oceano. A cidade é mostrada, enquanto o carro de Lee atravessa frente às casas.

P. 24–28: Flashback. É o mesmo dia da pescaria. Lee chega em casa e conhecemos suas três filhas, Suzy, Karen e Laura. Ele brinca e é carinhoso com cada uma. Randi está na cama, gripada. Lee pergunta como ela está. “Então vocês foram pescar ou só beberam cerveja? ” A conversa circula a relação de Lee com a bebida, que afirma estar reduzindo. Ele beija Randi sob protestos, depois pega Laura no colo sob protestos, fazendo o que vem à mente.

P. 28–30: Lee conversa com Paul Murray no telefone, vice-diretor da escola de Patrick. Paul informa que Patrick está no time de hóquei no gelo e explica onde fica. Lee não avisa que Joe morreu e agradece a informação. Após desligarem, Paul conversa com sua secretária. Joe está mais uma vez no hospital, era Lee no telefone. “Lee Chandler?” “O próprio. ”

P. 30–32: Patrick recebe um encontrão de um adversário no treino. Revida, começam a brigar, até serem separados pelo Treinador. Patrick vê Lee à distância. “Ah, foda-se. ” Dois amigos, Joel e C.J., se aproximam do treinador e explicam que aquele é o tio de Patrick. Todos param, assistindo à conversa do garoto com Lee. Após a notícia, o garoto é dispensado do treino e recebe abraços dos dois amigos.

P. 32–34: Lee dirige com Patrick no carona. Pergunta se o rapaz quer ver o pai. “Como ele parece? ” “Ele parece morto. ” Eles chegam ao hospital, Lee pergunta se ele quer entrar ou ir para casa. A resposta do garoto é ambígua e acabam discutindo. A comunicação é difícil. Patrick vê o corpo de Joe e não suporta ficar muito tempo. “Bem, isso foi um erro. ”

P. 35–37: Eles vão para casa após o hospital. Um carro saindo de uma garagem trava o caminho. Lee buzina inúmeras vezes e uma discussão generalizada começa. Patrick reconhece os vizinhos e pede desculpas, enquanto reclama do tio. Um silêncio constrangedor acontece quando descobrem que aquele é Lee Chandler.

P. 37–41: Chegam em casa. Lee pede pizza enquanto Patrick chama amigos. Cj, Joel e Silvie, aparentemente a namorada, se juntam à Patrick na sala, relembrando seu pai. Lee observa enquanto bebe cerveja.

P. 41–42: Flashback. Quatro ou cinco anos antes. Lee, Joe e Patrick estão no apartamento/porão que vimos no início, onde Lee ainda mora. “Quanto te pagam? ” “Salário mínimo mais o quarto”. Está igual, exceto pelos móveis faltando. Joe convence Lee a fazerem compras. Conseguem uma poltrona e uma luminária. De volta ao apartamento, agora ele está idêntico ao início do filme. Porém, os móveis estão novos. Parece melhor, ao mesmo tempo parece vazio.

P. 41–42: Lee entra no quarto de Joe. Faz a barba e veste os pijamas do irmão.

P. 42–44: Patrick vai ao quarto de Lee, que está vestindo os pijamas de Joe, bebendo cerveja e vendo TV. O adolescente pede para Silvie dormir em casa. E para Lee colaborar em caso de pergunta dos pais da garota. “Devo te dizer para usar camisinha? ” “Não… quer dizer… a não ser que sinta que deva. ” Patrick pergunta se deveria ligar para a mãe para dar a notícia. Lee fica tenso enquanto responde que não. O sobrinho acaba dando um abraço desajeitado no tio, antes de voltar ao próprio quarto.

P. 44–45: Flashback. Voltamos seis anos. Joe, Lee e Patrick voltam para a casa de Joe após jogarem baseball. Encontram Elise estirada no sofá, uma garrafa de licor pela metade, além de bicas de cigarro sobre a mesa. E cocô de cachorro por toda a casa. Lee leva Patrick para o quarto, enquanto vê Joe cuidar de Elise.

P. 45–47: Patrick começa a escrever um e-mail para a mãe, ainda na madrugada. De manhã, Lee e o casal adolescente dividem a mesa do café, enquanto o tio cuida da logística de seu trabalho e do enterro. Silvie critica as prioridades de Lee.

P. 48–51: Patrick na escola, recebe condolências dos amigos, é temporariamente dispensado do time de hóquei. Está fumando cigarro com os amigos e tenta esconder quando Lee chega para buscá-lo. Lee percebeu os cigarros e questiona, mas não faz nada sobre. Eles vão ao encontro do advogado para ver o testamento de Joe, ainda que Patrick não queira.

P. 51–52: Flashback. Voltamos cinco anos. Lee está jogando ping-pong e bebendo com Joe, George e amigos no porão de sua casa. Randi aparece e reclama do barulho. Lee pede uma desculpa debochada, e Randi grita que todos saiam e o marido arrume tudo. “Ela não pode falar desse jeito conosco. ”

P. 52–54: Wes, o advogado, e Lee leem o testamento. Ele deve ser o guardião de Patrick. Joe não contara essa decisão. Lee questiona de inúmeras formas. “Bem… só posso repetir, estou surpreso que Joe não dividiu isso com você, detalhista como ele era. ” “É, porque ele sabia o que eu ia dizer se ele pedisse. ”

P. 54–55: Flashback. Mesma noite há cinco anos. A cena começa a se alternar com o presente. Os amigos vão embora aos risos e gritos. Lee se despede e volta para dentro da casa, cercada por árvores num local campestre. Randi está de braços cruzados, mas aceita um beijo do marido antes de dormir. “Vou limpar pela manhã, baby. ” “Vai, sim. ”

P. 55–55: Patrick está no celular, aguardando Lee. A secretária do advogado oferece refrigerante.

P. 55–56: Flashback. Lee anda bêbado pela rua coberta de neve até um mercado. Está muito frio.

P. 56–56: Lee segue olhando para o testamento.

P. 55–56: Flashback. O caixa empacota duas caixas de cerveja, leite e fraldas para Lee. Ele sai da loja, ainda bêbado, sem notar o clarão laranja no céu, acima das árvores ao longe.

P. 56–56: Wes simpatiza com o passado de Lee. Ele pensa em alternativas. A mãe de Patrick não é uma delas. Escutamos o som do fogo.

P. 56–57: Flashback. Lee chega à sua rua. Vê fogo no céu e luzes.

P. 57–57: Lee olha para o mar pela janela. “É preciso considerar o Patrick. ”

P. 57–57: Flashback. Lee sobe a ladeira correndo.

P. 57–57: Lee se ajeita na cadeira.

P. 57–58: Flashback. A casa está engolida pelo fogo. Bombeiros tentam apagar o incêndio. Dois policiais impedem Randi, desesperada, de voltar para a casa. Ela grita que alguém precisa tirá-las de lá. Vemos a expressão de Lee, olhando para a casa, ainda com a sacola do mercado em mãos. Amanhece. Joe está ao lado de Lee. Randi é levada em uma ambulância, quase inconsciente. Três corpos são retirados dos escombros, cobertos por sacos. Lee desaba.

P. 58–58: Lee agradece Wes. Não tomou uma decisão ainda.

P. 58–61: Flashback. Lee na delegacia, depondo para dois detetives. Ele bebeu, usou maconha, cocaína. Conta todo o ocorrido com dificuldade. Colocou lenha na lareira para afastar o frio da noite. Esqueceu de colocar a grade. Os detetives o liberam. Seu erro foi terrível, mas não um crime. Ele não entende.

P. 61–62: Lee sai, avisa Patrick para irem. O garoto faz uma piada, Lee não tem paciência.

P. 62–62: Flashback. Joe e Stan esperam por Lee na delegacia. Um policial passa na frente em sua saída. Ele o agarra, rouba a arma e tenta atirar contra a própria cabeça. A trava de segurança o impediu. Todos puxam armas e acabam conseguindo impedir Lee, que não resiste.

P. 62–65: Rumo ao carro, Lee pensa na logística. Patrick pergunta do barco. Eles divergem. Discutem. Brigam. A gritaria atrai a atenção de um homem passando. “Ótimo pai! ” Lee fica furioso, ameaçando agredir o homem. Mal consegue usar as chaves para abrir o carro.

P. 65–68: Na marina, eles chegam ao barco com George. Conversam sobre o estado do barco. Lee pergunta se George quer ser o guardião. George tem cinco crianças. “Você é retardado? ” Lee diz que só está pensando na logística. A caminho do carro, Patrick pergunta sobre a mãe. Esteve em contato com ela no último ano. E na noite anterior. Lee desaprova: “é a última coisa que seu pai ia querer. ”

P. 68–70: Flashback. Quatro ou três anos antes. Joe, Patrick e Lee assistem a um jogo na casa de Joe. Pai e filho acompanham, Lee fica indiferente. O telefone toca, é Elise. Patrick pede para dar oi, Elise diz que não pode, pois a ligação é rápida. Joe se irrita e desliga. Ela liga de novo e ele leva o telefone para a cozinha, deixando tio e sobrinho na sala.

P. 70–77: Eles vão para a funerária. Não há uma em Manchester, apenas um cemitério. Lee faz os arranjos. O corpo de Joe deve ficar congelado até a primavera, quando será possível cavar a cova. Patrick não gosta. Discutem a logística. Procuram o carro, ambos congelando. Discutem sobre Joe, sobre o carro frio, sobre tudo. Patrick pede para pegarem seus instrumentos. Ele tem ensaio da banda na casa da namorada. Outra namorada, Sandy.

P. 78–80: Lee vai até a casa de Joe enquanto Patrick ensaia. Volta para buscá-lo e é recebido por Jill, mãe de Sandy, ainda no carro. Ela o convida para uma sopa, junto com Sandy e Patrick. Lee recusa, voltará às nove e meia.

P. 80–82: Lee está no sofá de Joe, fazendo arranjos sobre seus substitutos no trabalho. Um telefone da casa de Joe toca. É Randi. Um pergunta ao outro como está repetidamente. Ela questiona se pode ir ao funeral de Joe. Avisa que está grávida. Quase nascendo. Irá com o marido. É uma conversa educada e cautelosa. Lee não suporta, diz que buscará Patrick para encerrar a ligação.

P. 82–83: Flashback. Voltamos cinco anos. Joe, Lee e Patrick vestem ternos pretos. Lee olha para o chão, Joe para Lee. No cemitério, Randi é apoiada pela família. Ouvimos a oração do padre: “— e receba Susanna Marie, Katherine Grace, eLaura Pauline nos braços de sua misericórdia…” Randi procura por Lee. De volta à casa de Joe, ele olha para o irmão. Lee olha para o chão.

P. 83–83: Lee, no sofá, sozinho: “Me salve”

P. 83–83: No mar escuro da noite de Manchester, um cardume de baleias passa por nós.

P. 83–84: Patrick e Sandy tentam transar no quarto da garota. Tentam tirar suas calças sem muito sucesso. Jill bate à porta e ambos correm para se vestir. Lee chegou. Ele e Jill esperam à beira da escada os jovens descerem. “Como foi o dever de matemática? ” “Muito frustrante” “Bom…”

P. 84–85: Lee e Patrick retornam em silêncio. Patrick deita e não consegue dormir. Lee deita com a TV ligada, bebendo cerveja e comendo pizza.

P. 85–86: Flashback. Voltamos dez anos. Lee dirige o barco, Joe explica a vida de baleias jubarte para um grupo de turistas, enquanto assistem a algumas surgirem na água. Uma orca surge e uma turista se emociona: “Wanda, a baleia! ” Joe e Lee não suportam na hora e riem da turista posteriormente.

P. 86–86: Lee sorri no escuro.

P. 87–89: No dia seguinte, os dois se vestem para o funeral. “Suas duas namoradas vão? ” “Sim, mas cuidei disso. ” Na igreja, todos falam com Patrick. Lee e George ficam em uma lateral. Apenas algumas pessoas vão até Lee. Após a igreja, todos se encontram na casa de George. Patrick gerencia as duas namoradas., enquanto Lee fica perdido, sob olhares estranhos. George tenta fazer companhia, pede que Janine, sua esposa, traga comida. Depois cancela o pedido. A comunicação ocorre aos gritos.

P. 89–94: De volta à casa de Joe, Patrick pede para chamar Silvie. Lee não permite. O garoto afirma não querer morar em Boston. Ele tem uma vida em Manchester, Lee é só um zelador em Quincy. Lee não continua a conversa, precisa dormir. Ele acorda no meio da noite e escuta um barulho vindo debaixo. Patrick abre a geladeira para um lanche, depois o congelador. Embalagens de frango congelado caem. O garoto tem dificuldade para guardar, esbarra a cabeça na porta do congelador, tem uma espécie de ataque de pânico. Lee chega para ajudar, sem saber como. Patrick corre para o quarto e se tranca. Lee esmurra a porta e tenta entender como agir. Patrick chora, Lee senta em uma cadeira, incapaz, fazendo companhia.

P. 94–96: Lee e Patrick tomam café da manhã. O novo plano é deixar o ano escolar terminar. A partir do verão, Lee e Patrick se mudam para algum local em Boston. Patrick permanece não aceitando. Lee leva Patrick para a escola. O sobrinho pede dinheiro para comer na escola. “George não te paga um salário para o trabalho no barco? ” “Estou salvando para um motor novo. ”

P. 96–97: No escritório de Wes, Lee assina documentos. Liga para o Sr. Emery, pede que mande a Sra. Friedrich, que seguiu cobrando um conserto do teto no trabalho em Boston, enfiá-lo na bunda. Vai até sua casa em Quincy e coleta alguns pertences, incluindo os três porta-retratos. De volta à casa de Joe, desempacota suas coisas no quarto do irmão. Vai até a janela, olha o mar. Soca cada janela no quarto até sua mão jorrar sangue. Ele busca uma toalha e ao mesmo tempo o telefone fixo toca. Ele reclama e o telefone insiste. É Elise. A vemos em uma sala, apreensiva, tentando falar. Lee não responde. Desliga.

P. 97–99: O time de hóquei de Manchester está em uma partida. Um cara grande dá uma trombada em Patrick e uma briga começa. São separados e o juiz exige um cumprimento. Patrick não cede e a briga piora. O adversário deixa marcas no rosto do garoto. No hospital de Beverly, Lee entra na emergência, tentando evitar que mais sangue pingue da mão. O rosto de Patrick está sangrando. Um fala do ferimento do outro. Uma enfermeira cuida dos dois.

P. 99–102: Lee passa um aspirador no quarto, enquanto Patrick lê seus e-mails. Ele levanta e vai até Lee, com raiva. Questiona porque Lee não falou do telefonema da mãe. Ela está se casando e quer um almoço com o filho. Lee pede desculpas pois não sabia o que dizer, mas Patrick prossegue. Sugere morar com a mãe, o que resolveria os problemas de todos. Lee não confia nela, não aceita. Ele vai jogar o lixo fora, enquanto Patrick atende o celular. O adolescente entra no quarto de Joe e vê os três porta-retratos, com as três filhas de Lee. De madrugada, Patrick vai até o banheiro e escuta o som da TV. Desce a escada e vê Lee no sofá, cerveja na mão, quatro garrafas vazias sobre a mesa. Sobe a escada.

P. 102–103: Lee vê George e Patrick saindo no barco. Caminha até a loja de barcos e motores, pergunta se há emprego. Não é desejado por lá. Montagem de Lee batendo de porta em porta, preenchendo formulários.

P. 103–109: Lee busca Patrick e o leva para a casa de Sandy. O sobrinho insiste que ele fique para o jantar, passe um tempo com Jill. Após o ensaio, os quatro jantam. Um silêncio estranho se mantém até Patrick elogiar a comida. O casal vai para o quarto, nenhuma conversa se desenvolve entre Lee e Jill. A mãe fica checando o que os adolescentes estão fazendo, o que atrapalha a “concentração’ de Patrick. Ele acidentalmente esbarra na casa de boneca herdada da avó de Sandy, mais gritos vindos de Jill graças ao barulho. Após um tempo, Jill vai até a porta falar com a filha. “Ele não fala! ”

P. 109–109: Lee e Patrick no carro. “Você não consegue jogar conversa fora? ” “Não. ”

P. 110–114: Lee leva Patrick até a casa de Elise. Ela os recebe e apresenta Jeffrey. Lee repara um quadro de Jesus na parede. Ele não fica para o almoço. À mesa, Patrick se oferece para ajudar. Jeffrey diz para ele relaxar, o garoto diz que se aplicará nisso. Jeffrey diz que era uma piada. Patrick sabia e fez uma piada. Elise pede que ele lave as mãos, o que faz com cuidado. Uma oração é feita antes de comer. Ele não fala amém, Elise questiona sutilmente. Ele diz que falou baixo. Ela sabe que mudou muito e deve chocar Patrick. Espera que seja um bom choque. A conversa não evolui e ela vai até a cozinha. Jeffrey também não consegue e vai atrás dela. Patrick continua comendo.

P. 114–115: Lee leva Patrick para casa. Pergunta como foi. Patrick está infeliz. Lee diz que ela parece estar melhor. Não está bebendo, não está em alguma clínica psiquiátrica. “Uau. ” “Uau o quê? ” “Você fará qualquer coisa pra se livrar de mim. ” Patrick escreve um e-mail em seu iPhone.

P. 115–115: Patrick lê um e-mail de Jeffrey. Ele agradece o carinho de Patrick, mas diz que Elise precisará de mais tempo antes reintegrar o filho em sua vida. Patrick não termina de ler e deleta a mensagem.

P. 116–117: À noite, Lee vê Patrick assistindo TV. Pergunta dos amigos. Se ele quer chamar algum deles, ou Sandy. Patrick não quer. “Boa tentativa. ” Lee caminha até o porão de Joe, até o armário com rifles e pistolas do irmão. Pega uma arma. Patrick está à porta. “Vai atirar em quem? Eu ou você? ” “Sabe quanto essas armas custam? ” Na manhã seguinte eles vão à loja de armas e vendem as de Joe. No mesmo dia, com George, examinam um motor novo. Compram e instalam no barco. Patrick navega com George ao lado, enquanto Lee assiste da marina.

P. 117–120: Lee caminha para o carro e vê Randi em seu caminho, empurrando um carrinho de bebê. Uma amiga, Rachel, está com ela. Se cumprimentam. O nome do bebê é Dylan. Rachel vai buscar o carro para deixar os dois. Lee tenta evitar, mas Randi pede para conversar. Falam de Patrick, de Joe. Ela costumava vê-los, é estranho ficar distante agora. Ela pergunta se poderiam almoçar algum dia. “Quer dizer, nós? Eu e você? ” Ela quer se desculpar pelas coisas terríveis que disse no passado. “Eu sinto muito. Eu amo você. Talvez não devesse dizer isso. ” Ambos choram muito. Lee tenta responder. Agradece pelas palavras, mas não consegue responder. Não consegue falar. Os dois desabam. Randi tenta se conectar, Lee não consegue, se afasta.

P. 120–121: Lee bêbado, no bar. Ainda é dia. Um grupo de pescadores chega, um deles esbarra em Lee e pede desculpas. Lee devolve com um soco. O caos se instala. Pete, um cara grande e barbudo o reconhece e consegue uma trégua. Lee ignora, soca outro pescador até ser nocauteado.

P. 121–122: Pete deixa Lee na casa de George. Patrick foi com os filhos de George comer hamburguer. Lee tenta levantar, pagar pelo hamburguer. Não consegue. George faz ele se sentar. Lee desaba em choro.

P. 122–122: Patrick e Lee chegam em casa. O tio pega uma cerveja, vai para o sofá. O sobrinho pergunta se pode fazer algo. Dá um abraço em Lee, que devolve o abraço e chora. “Sinto muito. ”

P. 123–123: Patrick, Sandy e Lee estão no barco. Patrick deixa Sandy navegar. Depois Lee os leva para casa. Os deixa sozinhos, enquanto vai para a cidade.

P. 124–124: Lee estaciona na casa de George.

P. 124–124: Sandy e Patrick deitados, o garoto feliz. Ela pergunta quando ele terminará com Silvie. “Hoje…? ” “Bom. ”

P. 124–124: Lee, George e Janine conversam na sala da casa deles. Parece uma conferência.

P. 124–125: Patrick e seu time de hóquei jogam com outro time. Lee, George, Janine e Sandy assistem. Silvie também, com amigos, parecendo chateada. Outro dia, Patrick jogando uma partida de beisebol, todos assistindo. Silvie também, agora com um novo namorado. Outro dia, uma van de consertos do lado de fora de uma casa em Manchester. Dentro, Lee está trabalhando no aquecedor. Um senhor, dono da casa, pergunta sobre o pai e o irmão de Lee. Lembra que houve alguma tragédia com a família Chandler. Conta que seu pai desapereceu em 1969. Também marcado pela tragédia. Lee continua o conserto.

P. 125–126: Patrick entra no cemitério de Manchester, até a lápide de Joe. Testa o solo, consegue cavar um pouco com um galho. Volta para casa. “Ei mãe, o que tem para jantar? ” Lee responde: “Espaguete! ”

P. 126–127: Lee está no sofá, cerveja na mão, liga a TV. Cai no sono. Uma pequena mão puxa a manga de sua blusa. É Suzy. As três filhas estão ali. “Oi, querida? ” “Não pode ver que estamos queimando? ” Lee acorda, fumaça vindo da cozinha. Ele corre. Está tudo bem, apenas queimou o molho.

P. 127–130: À noite, Patrick vai até a cozinha. Lee está encerrando uma ligação, conseguiu um emprego em Boston. Eles se sentam para o jantar. Lee puxa o assunto. Patrick pergunta para onde vão se mudar. Lee explica que a vida de Patrick não mudará. George irá adotá-lo, a casa vai ser alugada até os dezoito, mas ele voltará para ela depois. Poderá ficar na cidade, na banda, nos times. Lee explica, é como ele arranjou a logística. Mas Patrick pode decidir. O garoto fica feliz… e triste, ao mesmo tempo. Pergunta se Lee não pode ficar. Por que não pode ficar. “Não consigo. Não consigo superar isso. Não consigo. ” Eles se abraçam, Patrick chorando.

P. 130–130: George, Lee e Wes assinando documentos.

P. 130–130: Aviso de aluguel na casa de Joe. Patrick no iPhone, Lee acompanhando enquanto um corretor mostra a casa para um casal.

P. 130–133: Cemitério, é o enterro de Joe. Patrick, Lee, George e Janine na primeira fila. Um bebê chora, é o filho de Randi. É um belo dia de primavera. Lee e Patrick sobem uma rua inclinada ao fim da cerimônia. Lee pega uma bola de borracha no chão e começa a quicá-la. Patrick vai pegar um sorvete, Lee continua quicando. A bola desvia e Lee corre para evitar que ela caia até o início da rua. Patrick pergunta quando se mudará para George. Fim de Junho. Pergunta se o tio não pode esperar o verão, trabalhar no barco com ele. Lee começa o novo emprego em Julho, ainda tem que achar um lugar para morar. Se irrita um pouco. Patrick pergunta por que não deram um apartamento a ele. Lee quer um com um quarto extra. “Para quê? ” “Caso queira me visitar. ” Ou se Patrick fizer faculdade em Boston e precisar de um lugar para dormir eventualmente. O sorvete acaba. “Eu quero… pensei em mantermos contato…” Patrick tenta perguntar por que ele não fica, Lee interrompe. “Eu ficaria se pudesse. Mas é impossível. Todos querem que eu me recupere. Mas é… não consigo… voltar. ” Após um minuto, Lee seca as lágrimas nos olhos e joga a bola para Patrick. Ela quica de maneira estranha e cai, mas Patrick a busca. Eles quicam um para o outro, buscando sempre que ela cai.

P. 133–133: Lee e Patrick navegam com o barco. O mar está gelado, mas com um azul belo.

P. 134–135: Flashback. Voltamos nove anos. Um barco navega no mar. Stan, Elise, Patrick, Randi grávida, Suzy, Karen, Joe e Lee. Os irmãos pescam, as crianças vestem salva-vidas. Uma baleia-cinzenta salta no mar a seis metros de distância, jorrando água no barco. Repete a ação, enquanto todos ficam felizes, um pouco de medo, mas excitados. Nos afastamos, vendo que dúzias de baleias circundam o barco.

FIM

Chegou até aqui? Uau. O que achou das diferenças entre roteiro e o filme? Quais eventos ou diálogos marcaram sua experiência ao assistir? Deixe suas impressões nos comentários.

O exercício continua com mais dois textos. O próximo aborda o incidente incitante do filme.

O último foca na construção de Lee, observando porque a história avalia esse momento de vida do personagem.

Bônus: tem interesse em fazer o exercício você mesmo? Dividir o próprio roteiro de sua vontade em cenas? O Além do Roteiro está aberto para hospedar sua própria análise. Você faz, aprende, e publicamos com seu nome aqui. Se gostou da ideia, dá uma olhada nesse link para ver quais filmes já foram feitos. Nesse outro link, você vê como entrar em contato com a gente. Só vem!


Você também pode ler nossas análises de filmes e séries aqui.

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Roteirista, apaixonado por narrativas. Editor e podcaster do Além do Roteiro.


Yann Rodrigues

Roteirista, apaixonado por narrativas. Editor e podcaster do Além do Roteiro.

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