Nota: O texto possui spoilers do segundo capítulo da segunda temporada de Black Mirror: White Bear.

O episódio começa como uma cena de perseguição à protagonista, que acabara de sair para a rua. Ela é perseguida por pessoas fantasiadas, mas a cena realmente assustadora ali são os que filmam a caça, como se esse fosse um programa de entretenimento, sem esboçar nenhuma solidariedade à posição vulnerável da protagonista.

A protagonista

Ao esconder-se dentro de uma loja, a protagonista conhece Jem, a única pessoa até então que não a está perseguindo nem a filmando. Jem ajuda a protagonista na sua fuga em diversas situações. Na mais crítica, ela estava para ser enforcada quando Jem veio salvá-la.

Um dos mascarados que perseguem a protagonista

A perseguição se encerra quando a protagonista chega dentro de uma sala de máquinas. Subitamente, ela gira e transforma-se em um palco, com uma plateia a postos. Nesse momento, a protagonista descobre sua verdadeira identidade.

Ela é Victoria Skillane, condenada pelo sequestro e assassinato de uma criança junto com seu namorado. Victoria deu o tiro derradeiro na criança e dentro do palco lhe são mostrados vídeos que ela mesmo gravou durante o sequestro para enviar aos pais da refém.

Victoria se debate na cadeira a qual está presa, pedindo indulgência para a plateia e os apresentadores no palco. O espetáculo era, de fato, um programa de entretenimento, que começou justamente quando ela acordou na sala e saiu à rua onde acontece a perseguição. White Bear é um parque de diversões punitivo, onde criminosos são condenados a serem os protagonistas desse espetáculo sádico. O nome, é em homenagem ao ursinho de pelúcia da criança a qual ela matou.

Victoria no palco, quando descobre sua verdadeira identidade

A vingança é um sentimento completamente inerente ao ser humano. Tanto que está presente em dois dos sete pecados capitais: a ira e a inveja. Por essa característica, é fácil fazer um empreendimento de entretenimento com a vingança como centro do processo. White Bear não é uma questão sobre justiça, já que alguém como Victoria terá a punição máxima que poderia sofrer por um crime como esse, que é a marginalização da esmagadora maioria da sociedade. Para todos esses, ela será uma pessoa completamente invisível, com a qual ninguém irá interagir. A alienação máxima é uma punição severíssima para um ser social como o humano.

White Bear Justice Park (or Revenge Park)

Logo, White Bear é apenas sobre vingança. Para muitos dos leitores, pode ser chocante a ideia de um parque de diversões baseado na vingança. Principalmente dentro da dinâmica da história em que o autor faz com que o espectador crie simpatia por Victoria antes de revelar seu passado. Mas, olhando para o lado, White Bear pode ser uma alegoria para outros parques de diversão da vingança com o qual já convivemos.

É clássica a ideia do mocinho que mata o vilão que o oprimiu. Eis a vingança. Para falarmos de algo mais contemporâneo, os programas policiais que bradam para todo o lado que “bandido bom é bandido morto” também cumprem esse papel. Ou as coberturas jornalísticas que consideram certas figuras políticas como vilões, ainda que acusadas de crimes os quais outros também foram acusados, sem receber a negativa alcunha. Os vilões são sempre dignos de todas as maldades as quais sofrem, por serem desumanizados.

E aí a vingança toma características inebriantes. Turvam a visão de todos e estimulam a agirem de acordo com os interesses de quem a patrocina. Seja pagando a entrada em um parque de diversões ou concordando com determinadas ações, apenas pelo fato, do vilão ser contra elas.

Publicado originalmente no Medium por Gustavo Barreto.

Procurando pela 4ª temporada? Começamos uma série de análises detalhadas sobre os episódios recém-lançados.
Você encontra essas análises e as reviews dos outros episódios de Black Mirror aqui.


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Passo boa parte das minhas horas vendo esportes, no netflix, no bar ou perdido em textos na net. Nas restantes, escrevo no Medium e aqui sobre isso


Gustavo Barreto

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