Você pode ter lido um ou outro texto sobre machismo de um famoso como Gregório Duvivier, acompanhar o trabalho de uma pessoa escritora ou pensadora, lembrar de um filme ou obra em que um homem traga o assunto do machismo em pauta.
Mas a massa, o grupo social, uma maioria entre 100 milhões de pessoas nascidas no sexo masculino por esse Brasil, falam sobre machismo?
Na exatidão, não sei. A sensação, um tanto óbvia – por leituras, aprendizados e experiências próprias -, é de que não falam. Não falamos.
É o tipo de sensação que me motiva a escrever um texto como “Desconstruindo o machismo dentro de casa“. Então publico, ganho curtidas aqui e acolá, uns comentários e corações e um ou outro compartilhamento.
Principalmente de mulheres.
Parte 2 do texto? Mesma coisa. Fica parecendo que estou escrevendo para mulheres, ganhar seus likes e suas admirações, entrando no lugar de fala que é delas. Não é o objetivo. São textos para homens que se identificam minimamente comigo pensarem (junto comigo) no que podemos melhorar. Quando olho quem interage, não parece surtir efeito.
Não consigo medir o Brasil, mas ei, meu Facebook até vai. Analisei nove textos ou postagens minhas, três relacionadas ao tema do machismo, seis relacionadas a outros temas aleatórios. Como se comportou o meu círculo de amizades? Tem um infográfico bonitinho e interativo abaixo (clica nos gráficos, por favor, isso deu trabalho e vai me deixar feliz!).
Ok. Deu pra entender que a interação através de curtidas de meus amigos nascidos no sexo masculino é semelhante a quantidade de pessoas de sexo masculino que tenho entre todas as minhas amizades: 68% contra 63%.
Tá bonito, tá próximo, apesar da falta de rigor estatístico.
Mas quando o tema é machismo, a interação cai pra 33%. Quase um terço das pessoas à minha volta na rede é mulher, mas elas conseguem dois terços das interações. O dobro dos homens.
Porra!
Pode ter influência do Edge Rank, o famigerado algoritmo do feed de notícias do Facebook? Pode. Deve. Absolutamente há influência. Agora, vou deixar um espaço pra você se convencer que o algoritmo é o grande responsável por essa disparidade.
Se convenceu?
Em caso negativo – o que espero -, podemos perceber como somos omissos na discussão. Eu, que escrevo esses textos, quase não trago o assunto pessoalmente, com outros homens. Mas eu quero trazer e, caras, a gente tem que se envolver. Falar disso.
Sim, são apenas três textos sobre machismo, você pode reclamar de média em relação à mediana, no entanto, não vamos ignorar os dados absolutos. Todos os textos sobre o tema tiveram menos interações de homens do que todo e qualquer texto fora do tema. Em “Outros”, os textos com menor porcentagem são também os que passam pela homofobia (Jean Wyllys) ou pelo racismo, curiosamente.
Não trouxe os dados dos comentários e compartilhamentos desses posts porque são menores quantidades, menos significativas estatisticamente. Mas, na boa, são piores pro nosso lado.
Não sei como fazer os homens falarem mais disso. O diagnóstico já era óbvio, mas tô escancarando na minha rede, para a minha rede.
Então, tô falando com você, caro amigo de Facebook. Fala do assunto. Pode começar por esse post. Não é curtir não, é interagir. Comenta, responde, fala mal, refuta os dados, diz que não entendeu, na própria linha do tempo ou aqui embaixo no Disqus, ou no whatsapp ou na próxima mesa de bar. Mas, por favor, vamos sair dessa porra de omissão masculina.
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Roteirista, apaixonado por narrativas. Editor e podcaster do Além do Roteiro.